A trajetória do sujeito que emerge no ‘Novo Drama’ criado por Ibsen, por Tereza Menezes

Na Grécia Clássica o homem era um membro da Polis, um cidadão que participava de eventos cívicos e políticos, tais como os Festivais de Tragédias e Comédias que eram um espetáculo cívico, estético e religioso.

Na Idade Média o homem era considerado como um ser decaído, corrompido pelo pecado e submetido ao arbítrio da Igreja Católica. Seu mais expressivo teatro acontecia em praça pública, sob a vigilância da Igreja, eram os Mistérios Medievais, realizados pelas corporações. Narravam, de forma linear, os  diversos capítulos da criação, danação e salvação do homem.

No Renascimento o homem se destaca da natureza e do divino. Descobre a perspectiva, a profundidade e a densidade em sua arte. A Reforma Protestante de Lutero mostra que já não existe uma só verdade,  dando ao devoto a liberdade de interpretação pessoal dos textos sagrados. A Contra-Reforma da Igreja Católica determina que existe o livre arbítrio para pecar ou não pecar: o homem não é mais um ser obrigatoriamente corrompido, pode escolher não pecar mais e se salvar.
Ele é visto como um ser em transformação e, em seu teatro, nasce o Drama, um espetáculo centrado na relação interpessoal, isto é, no próprio devir humano.

No Iluminismo o homem conquista sua maioridade. Ele “ousa ousar seu entendimento”, como disse Kant. Para este filósofo, o homem é o sujeito de seu conhecimento. O mundo em si não tem sentido, é o homem que dá sentido a ele. Isto porque possui, em sua subjetividade, as regras inatas pelas quais os objetos podem ser reconhecidos. Este sujeito kantiano é um “duplo empírico-transcendental”, isto é, pode viver, ao mesmo tempo, as sensações empíricas (tudo que é sensível) e o entendimento (o racional) que é transcendental. O mundo sensível, que havia sido banido pelo racionalismo cartesiano, é valorizado em uma nova modalidade de drama, o melodrama.

No Romantismo o homem exalta o seu mundo interior. Idealiza o poder de seus sentimentos, intuição e fantasia, como meios de criar e conhecer a realidade. Em seu anseio de plenitude, ele quer abarcar o visível e o invisível e, para isso, se dá a liberdade de atribuir novos significados e sentidos às palavras, criando, em si mesmo, caminhos para a expressão de seus anseios. É o momento em que surge o Romance, gênero literário onde a subjetividade do leitor reina absoluta na fruição proporcionada pela sua fantasia pessoal.

No Realismo (e todos os seus desdobramentos que vivemos no século XX) o homem vê o desmoronar de seus ideais e sonhos de plenitude. Percebe-se só ao se atritar com o mundo exterior. Ele não quer mais o sonho, quer a verdade, mesmo que complexa e arredia à compreensão. Para lidar com esse ‘mundo real’ um novo sujeito começa a se constituir. Um sujeito que emergiu do mergulho em seu Eu idealizado e, para poder ver a si mesmo e ao mundo que o desafia, ele se dilacera, se fragmenta para poder entender os seus quereres conscientes e inconscientes. Percebe que já não há religião ou idealização que possam dar sentido a seus atos. Agora seus valores dependem de sua experiência pessoal, de seu estar no mundo com toda a liberdade para escolher o que quer ser a cada instante vivido.

O sujeito do Novo Drama, com o qual Ibsen sacudiu o mundo burguês, é um homem complexo movido por desejos que nem sempre reconhece como seus e, sobretudo, é um homem só, por não mais poder delegar a sua sorte a um poder divino. Por ser mais lúcido e mais sofrido, por perceber as muitas instâncias que o constituem, tem agora o poder e a necessidade de criar a si mesmo, de ressignificar todas as suas experiências o tempo todo. E, com toda a coragem, continuar escolhendo e abrindo seu caminho, ainda que seja um vôo cego e só, como acontece com cada um dos personagens da peça Espectros que Ibsen nos legou. Esta peça já é um sucesso... de sujeitos em movimento no espaço infinito do teatro.

Tereza Menezes

Lênin morreu de sífilis, e não de acidente vascular cerebral

"A REVOLUÇÃO FOI FEITA POR UM LOUCO COM SÍFILIS DO CÉREBRO"

Os historiadores, há muito concordam que o revolucionário russo Vladimir Ilitch Lênin sofreu uma série de três golpes que o levaram à morte. Mas uma nova evidência foi descoberta e parece mostrar que Lênin realmente sucumbiu à doença sexualmente transmissível, a sífilis.

Os soviéticos fizeram grandes tentativas para encobrir as verdadeiras razões do comportamento errático de Lênin e seus ataques repentinos de raiva nos anos que antecederam sua morte em 1924.

Mas agora a escritora britânica Helen Rappaport acredita ter encontrado a evidência que prova finalmente que Lênin sofreu de luetica endartitis - neurossífilis - uma forma da doença que afeta o cérebro.

Nos documentos arquivados na Universidade de Columbia em Nova York, ela encontrou uma referência à verdadeira natureza da doença de Lênin feita pelo eminente cientista russo Ivan Pavlov.

O vencedor do Nobel - famoso por seu trabalho de acondicionamento com cães – disse certa vez, que descobriu que a "revolução foi feita por um louco com sífilis do cérebro".

Rappaport, quem escreveu vários livros sobre a história da Rússia, acredita que provavelmente ele tenha contraído a doença de uma prostituta em Paris, por volta de 1902.

Os soviéticos atribuem o comportamento errático de Lênin à arteriosclerose - uma doença que afeta o cérebro e que imita a sífilis em muitas de suas características.

Desde o final de 1921 ele sofreu uma série de catastróficos ataques físicos levando-o à paralisia progressiva. Estado que o deixou, até o momento da sua morte, "confuso e como um indefeso aleijado, privado da faculdade da fala e com olhar fixo de louco", segundo relatou o cientista.

Rappaport fez a descoberta após a publicação do seu livro "Conspirador: Lênin no Exílio”, ele estava determinado a fundamentar sua alegação. Ele disse: “É a convicção tácita de muitos altos médicos e cientistas do Kremlin que Lênin morreu de sífilis, mas uma conspiração de décadas de silêncio foi imposta aos profissionais, pelas autoridades". Porém, apesar de tudo, ninguém foi mais eloqüente em sua afirmação sobre este fato que o grande professor Ivan Pavlov, pioneiro da teoria de Pavlov's Dog.

Depois da revolução em 1917, Pavlov se opôs violentamente contra os bolcheviques quando viu que a experiência monstruosa “soviética” tratava os seres humanos pior que sapos de laboratório experimental.

A caminho de um congresso em Londres, Pavlov tinha parado para visitar um velho amigo em Paris, o Dr. Mikhail Zernov. Durante a conversa mantida com Zernov, Pavlov contou que "Lênin havia padecido de sífilis e que durante seu tempo como líder soviético havia manifestado todos os sinais clássicos de alguém doente com paralisia progressiva provocada pela doença".

Pavlov sabia que os cientistas eminentes que foram chamados para examinar o cérebro de Lênin depois de a sua morte em 1924, todos eles concordaram com este diagnóstico.

"Era um segredo aberto entre eles, mas nenhum declarou publicamente sobre a doença e não existem registros oficiais soviéticos documentados. Os médicos do Kremlin que examinaram Lênin foram proibidos de falar sobre ele - sob pena de morte - e forçados a alterar a causa mortis no registro oficial".

A realização de gênio de Pavlov e sua utilidade para o Estado fez com que Lênin o cortejasse assiduamente. Segundo Rappaport, ele foi autorizado a fazer a declaração polêmica sobre a condição de Lênin, porque o líder russo tinha lhe concedido imunidade por ele ter sido útil para o estado.

Muitos outros nomes famosos do passado que haviam contraído sífilis, incluindo Nietzsche, Maupassant, Goethe e Donizetti - também experimentaram períodos de comportamento maníaco extremo seguido por episódios de colapso físico total.

Na foto: O corpo do líder bolchevique Vladimir Lênin se encontra no Mausoléu na Praça Vermelha de Moscou

Catatonia e morto-vivo


Awakenings (Tempo de Despertar)
Como Robin Williams e Robert DeNiro

Don't Say a Word (Refem do Silêncio)

The Testament of Dr Mabuse

Re-Animator (A Hora dos Mortos Vivos)
http://www.youtube.com/watch?v=uTmVIFgUdR4
Madrugada dos Mortos (Medo!!)

Ingmar Bergman: Ghosts





Ghosts

Royal Dramatic Theatre, Main Stage, 2002
A radically re-worked version of Ibsen's drama.


"Much happiness is associated with Ghosts, and I think it's a good play of to round 
off with."
- Ingmar Bergman


"It feels as if Strindberg and Bergman have got together over a few beers and decided 
to hot up Ibsen."
- Stefan Eklund, Borås Tidning

 



When Ingmar Bergman staged Ghosts at the Royal Dramatic Theatre in 2002 (premiere 9 February), it was a heavily adapted version of Ibsen's play that appeared on the stage. Bergman moved things around, re-wrote them, took away certain parts and added some of his own. This radical re-working placesPernilla August's Mrs Alving at the absolute centre of events. Bergman also inserted some lines fromStrindberg's The Pelican and The Ghost Sonata. In this way he drew together two of his most cherished dramatists in one and the same production.
The work was performed on the main stage of the Royal Dramatic Theatre. The set suggested a 19th century interior. A high window at the back of the stage gave a glimpse of a park through a rainy mist. Long, heavy, dark green velvet curtains flanked the window. A portrait of the deceased Chamberlain Alving gave a silent reminder of his presence in the lives of the characters even after his death. The action itself took place at the front of the stage. The furniture was arranged on the revolving stage, gradually turning to change the set, with the interiors and actors always facing out towards the audience. Although the play was performed on the main stage, an intimate chamber atmosphere was created. Many critics interpreted the production as a celebration of the tradition represented by the Royal Dramatic Theatre, in particular the quality of its acting.
References
O. G. Brockett, History of the Theatre, ninth edition, New York: Allyn & Bacon 2002.
Bernt Olsson and Ingemar Algulin, Litteraturens historia i Sverige, Norstedts Förlag, 1987.
Henrik Sjögren, Lek och raseri: Ingmar Bergmans teater 1938-2002 (Carlssons Bokförlag 2002).
Per Arne Tjäder, Fruktan, medkänsla och kritisk distans: Den västerländska dramateorins historia, Studentlitteratur, 2000

Montagem em 2003 de 'Ghosts', por Ingmar Bergman


Epílogo aos Espectros de Ibsen, por James Joyce

Caros vivos: o peso em vossa consciência
O velho rabugento o torna suportável;
Deixai que um derradeiro espectro apareça:
Sou o fantasma do finado Capitao Alving.

Silenciado e sufocado por meu passado
Tal como o cavaleiro sujo e dissoluto,
Me esforço pra poder subir até o tablado
E ali dar voz a uma opinião que guardo há muito.

Em termos de trocar casórios por velórios
Ninguém melhor que o Pastor Manders. O fato
É que eu, que nao sou pato em jogo de avelórios,
Deixo que a gansa dê prum ganso qualquer trato.

Minha mulher me deu um rebento bichado
E nossa criada teve uma bisca robusta;
Teu nome é alegria, ó Paternidade –
Mas só quando se sabe quem gerou os frutos.

Que fui o genitor dos dois é o que as mulheres
Me juram de pés juntos. Diz pra mim, ó Fado,
Se é que tu podes, ou então se é que tu queres,
Por que é que ela nasceu sadia e ele estragado.

Olaf pode arrastar-se em pedregosa senda
E ter vida tão casta quanto a de Suzana,
Mas também pode, em alguma sauna horrenda,
Vir a pegar seu quantum est de Pox Romana.

Mas Haakon erra em meio às rosas de sua via;
Assim, na farra, enchendo a cara, ele caminha,    
E acaba com um sorriso em seu último dia
Sem que se veja em seu nariz nenhuma espinha.
                                                                                                    
Receio e não compreendo coisas tais como estas,  
Mas se eu pintei e bordei como um perfeito louco,
Lembrai como uma criada de roupas modestas
Conhece sempre um jeito de nos dar o troco.

Quanto mais tremo e tomo duma jarra grande
Meu ponche espirituoso à meia-noite, mais
Eu me inquieto, mais me indago por que o Manders
Jantava tanto em  nossa casa anos atrás.

A vikings – que  afundavam barcos – tais  como eu,   
Jamais importa o que é culpado do delito,
Seja a ACM, uma DV, uma TB
Ou então o capitão de um porto lá no Egito.

Culpai o mundo e não culpai ninguém – o engodo    
Da puta, as ansias dum amante, censurai;
Porém, acima de tudo, curai a todos;
Não pergunteis se este pecou ou se seu pai.

A choupana está em chamas. O biltre fingido,
O carpinteiro, induziu o padre em logro.
Se eles tivessem, como eu, umedecido
A pólvora, nunca teria havido fogo,

E se eu jamais tivesse sido tal e qual
Eu fui – debil, dissipador e dissoluto,
Nunca teria havido aplauso universal,
E a gente ficaria em casa sem assunto.
                                                                                                    

Joyce assistira a uma montagem de Espectros no Theatre des Champs Elysées em Paris antes de partir para a Suíça. Numa viagem de trem um mês depois, escreveu esse poema. Posteriormente, ao considerá-lo autobiográfico, pediu a Gorman que o publicasse em sua biografia, juntamente com a seguinte observação, que ele ditou ao biógrafo: "lsso (que é de fato uma grotesca amplificação  da defesa, tentada pelo próprio Oswald, de seu pai na peça) não deve ser interpretado, porém, como se ele não considerasse Ibsen o supremo poeta dramático, baseando suas crenças  nas  peças  posteriores, a partir de O pato selvagem, e naturalmente não significa que considere Espectros nada senão uma grande tragédia”.
O Capitao Alving, narrador do poema, afirma que acreditou ter sido o pai de dois filhos, um fora e outro dentro do casamento – Regina, uma moça saudável, e Oswald, enfermo congenitamente. Já que o poema, cujo tom oscila entre cômico e sério, é uma paródia das ideias de Ibsen quanto a “espalhar  a  culpa” e  quanto  a assim  chamada  “terrível  alusão”,  o  Capitao Alving,  seguindo o  rastro desse sentimento de culpa, e tirando proveito da sugestão em Espectros de que o Pastor Manders e a Sra. Alving antes se haviam enamorado, insinua maliciosamente que Manders foi o pai de  Oswald, e declara categoricamente que  os próprios pecados dele serviram de material para uma obra-prima dramática.
Ellmann afirma que o interesse de Joyce pelo tema do pai devasso lembra tanto seu próprio pai quanto ele mesmo, e que o paralelo poderia ser levado adiante, tendo-se em vista o fato de Joyce ter sido pai de uma criança enferma, Lúcia, e de outra saudável, mas o mesmo Ellmann acrescenta: “... só na alteridade da composição, na estância dramática de seu poema, ele terá se permitido pensar em seus filhos nesses termos. Enquanto Joyce era imanente no Capitão Alving, este era outra pessoa”.

Orfanato

Imagem capturada do documentário The Father of Modern Drama, Henrik Ibsen, Dramatist.