Na Grécia Clássica o homem era um membro da Polis, um cidadão que participava de eventos cívicos e políticos, tais como os Festivais de Tragédias e Comédias que eram um espetáculo cívico, estético e religioso.
Na Idade Média o homem era considerado como um ser decaído, corrompido pelo pecado e submetido ao arbítrio da Igreja Católica. Seu mais expressivo teatro acontecia em praça pública, sob a vigilância da Igreja, eram os Mistérios Medievais, realizados pelas corporações. Narravam, de forma linear, os diversos capítulos da criação, danação e salvação do homem.
No Renascimento o homem se destaca da natureza e do divino. Descobre a perspectiva, a profundidade e a densidade em sua arte. A Reforma Protestante de Lutero mostra que já não existe uma só verdade, dando ao devoto a liberdade de interpretação pessoal dos textos sagrados. A Contra-Reforma da Igreja Católica determina que existe o livre arbítrio para pecar ou não pecar: o homem não é mais um ser obrigatoriamente corrompido, pode escolher não pecar mais e se salvar.
Ele é visto como um ser em transformação e, em seu teatro, nasce o Drama, um espetáculo centrado na relação interpessoal, isto é, no próprio devir humano.
No Iluminismo o homem conquista sua maioridade. Ele “ousa ousar seu entendimento”, como disse Kant. Para este filósofo, o homem é o sujeito de seu conhecimento. O mundo em si não tem sentido, é o homem que dá sentido a ele. Isto porque possui, em sua subjetividade, as regras inatas pelas quais os objetos podem ser reconhecidos. Este sujeito kantiano é um “duplo empírico-transcendental”, isto é, pode viver, ao mesmo tempo, as sensações empíricas (tudo que é sensível) e o entendimento (o racional) que é transcendental. O mundo sensível, que havia sido banido pelo racionalismo cartesiano, é valorizado em uma nova modalidade de drama, o melodrama.
No Romantismo o homem exalta o seu mundo interior. Idealiza o poder de seus sentimentos, intuição e fantasia, como meios de criar e conhecer a realidade. Em seu anseio de plenitude, ele quer abarcar o visível e o invisível e, para isso, se dá a liberdade de atribuir novos significados e sentidos às palavras, criando, em si mesmo, caminhos para a expressão de seus anseios. É o momento em que surge o Romance, gênero literário onde a subjetividade do leitor reina absoluta na fruição proporcionada pela sua fantasia pessoal.
No Realismo (e todos os seus desdobramentos que vivemos no século XX) o homem vê o desmoronar de seus ideais e sonhos de plenitude. Percebe-se só ao se atritar com o mundo exterior. Ele não quer mais o sonho, quer a verdade, mesmo que complexa e arredia à compreensão. Para lidar com esse ‘mundo real’ um novo sujeito começa a se constituir. Um sujeito que emergiu do mergulho em seu Eu idealizado e, para poder ver a si mesmo e ao mundo que o desafia, ele se dilacera, se fragmenta para poder entender os seus quereres conscientes e inconscientes. Percebe que já não há religião ou idealização que possam dar sentido a seus atos. Agora seus valores dependem de sua experiência pessoal, de seu estar no mundo com toda a liberdade para escolher o que quer ser a cada instante vivido.
O sujeito do Novo Drama, com o qual Ibsen sacudiu o mundo burguês, é um homem complexo movido por desejos que nem sempre reconhece como seus e, sobretudo, é um homem só, por não mais poder delegar a sua sorte a um poder divino. Por ser mais lúcido e mais sofrido, por perceber as muitas instâncias que o constituem, tem agora o poder e a necessidade de criar a si mesmo, de ressignificar todas as suas experiências o tempo todo. E, com toda a coragem, continuar escolhendo e abrindo seu caminho, ainda que seja um vôo cego e só, como acontece com cada um dos personagens da peça Espectros que Ibsen nos legou. Esta peça já é um sucesso... de sujeitos em movimento no espaço infinito do teatro.
Tereza Menezes
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